Concurso RenovaSP (Tiquatira 2) 2011



Projeto participante do Concurso promovido pela Prefeitura de São Paulo, sendo a área foco - Tiquatira 2, onde propomos uma nova concepção de costura urbana, aproveitando e aperfeiçoando a vocação de equipamentos de lazer da comunidade, remanejando a população em áreas de vulnerabilidade social para unidades de HIS com sistema pré-fabricado.






Tiquatira - Proposta de Intervenções em Áreas de Vulnerabilidade Social

São Paulo é caracterizada por diversas cicatrizes urbanas ao longo de seu território. Por definição entendemos uma cicatriz urbana como uma barreira física que impede dois lados urbanizados de se integrarem.

Tiquatira é um exemplo disso, a ausência do Poder Público permitiu que esta barreira fosse, em alguns trechos apropriada por pessoas desamparadas pelo mesmo, originando submoradias.

Acreditamos que é na fraqueza desse local que encontramos as maiores oportunidades de transformação do local. A localização dessa cicatriz urbana é privilegiada: há uma rede de equipamentos públicos (escolas, transportes, serviços, etc.) que já atende a população local, porém não há áreas de lazer em ambos os lados, apenas quadras improvisadas em terrenos públicos.

Nossa proposta é reconhecer esta cicatriz no território e criar uma espécie de “costura urbana” que integre as duas áreas e que também atenda ao déficit de áreas de lazer do bairro, reconhecendo os campos de futebol como uma pré-existência do local - uma conquista da população. Nesta área propomos apenas a reforma e a adequação dos campos aos padrões existentes.

Criamos um eixo longitudinal norte-sul através de uma esplanada de traçado irregular, em uma alusão as formas não convencionais de construção do entorno. Ao longo desta esplanada estarão organizados diversos equipamentos para uso da população, como áreas de lazer, centros comunitários, quadras, bicicletários e habitações. Sobre esta última questão, propomos manter ao máximo a população atual residente criando áreas adequadas para uma moradia digna, porém com uma tipologia que favorece a boa vizinhança através de pequenos pátios de acesso público, onde é possível as mães observarem seus filhos enquanto brincam nos pátios ou no parque.

O parque não tem uma função específica, ele é um meio de transposição, porém é um caminho aprazível para quem vai ao terminal A.E Carvalho rumo ao trabalho. É um local para a prática de exercícios, graças à sua pista de atletismo, pista de skate, esportes radicais e de equipamentos para ginástica; locais de festas populares graças às praças formadas ao longo da esplanada e também um equipamento de infra-estrutura urbana, pois o rio é utilizado como meio de drenagem durante o período de chuva, através de uma galeria paralela ao seu curso e da reconstituição da mata ciliar ao longo do rio.
Ao propormos este parque, imaginamos um Estado pró-ativo, que respeite a população e sua pré-existência sobre o local, ao invés de criar áreas simplesmente quantitativas, proponha áreas qualitativas em que a população reconheça que é um bem de todos e o mantenha.


Dinamismo Visual - Informalidade Unitária

Para as unidades de habitação de interesse social, propomos tipologias que atendam a uma demanda maior e mais diversificada, ou seja, partimos do princípio que as famílias e suas necessidades são diferentes, portanto devemos ter distintas tipologias para suprir tal premissa.
Baseando-se nessa linha de pensamento dividimos a edificação em apartamentos de 24m², para uso de 1 pessoa ou casal sem filhos; de 48m² que atendem as famílias com 1 ou 2 filhos e unidades com 72m² para famílias maiores em que além do casal e filhos, há outros membros residindo junto, uma característica freqüente em regiões de periferia carente.

As áreas de implantação, tanto no P.A.I. (Perímetro de Ação Integrada) do Tiquatira 2, quanto nas três áreas de provisão, têm em sua morfologia relevo acidentado. Sendo assim tiramos partido dessa característica, criando sempre que possível o acesso em meio nível, potencializando a quantidade de unidades em cada bloco, ao mesmo tempo em que essa manobra permite acesso sem uso de elevadores, reduzindo consideravelmente os custos de construção e manutenção.

Características construtivas

Segundo as premissas do binômio – custo de construção x manutenção, optamos por uma construção pré-fabricada, limpa e sustentável, utilizando a topografia natural do terreno, gerando o mínimo de impacto com movimentação de terra, tanto nos lotes em questão, quanto em seu entorno imediato.

Como módulo estrutural adotou-se a dimensão de 4,00x3,00m em estrutura metálica. Optamos por estas dimensões por serem múltiplos de 12m, que é a dimensão comercial padrão dos perfis metálicos, resultando em um baixíssimo desperdício.
Lançando mão de perfis soldados leve e utilizando a laje painel posicionada na direção do maior vão, proporcionando um carregamento uniforme, já que o perfil de maior vão não receberá maior carga, resultando na padronização das dimensões dos perfis, conseqüentemente – otimização na mão de obra e redução dos custos.

Identidade visual

Para os fechamentos, utilizamos da pré-fabricação, utilizando painéis de argamassa armada com dimensão de 1,00x2,70m, alternando com painéis de janelas e venezianas com identificação visual caracterizada por cores, criando uma identidade visual às unidades, ao mesmo tempo dando maior dinamismo a fachada.

A organização das cores das HIS é aleatória, pois faz alusão às fachadas das moradias de autoconstrução em favelas, onde não se seguem padrões, e são utilizados materiais como: bloco cerâmico, telha de fibrocimento e madeira, traduzindo na identidade das HIS a liberdade de expressão e criatividade popular.


Sustentabilidade na concepção

Como prática sustentável buscou-se desde o início aliar um sistema pré-fabricado, que reduza ao máximo o impacto gerado pelos edifícios, além de materiais renováveis desde a estrutura ao fechamento. O fato da estrutura ser metálica já amortiza os impactos, pois possibilita sua desmontagem e reciclagem, aliada à mesma, os painéis pré-fabricados, também poderão ser desmontados e posteriormente reaproveitados.

Soluções já consagradas, mas não menos importantes, como teto-jardim, reaproveitamento de águas pluviais, painéis fotovoltaicos - em conjunto, garantem o sistema de otimização dos recursos.

Com relação ao quesito conforto térmico das unidades, baseamos na ventilação cruzada dos apartamentos, criando bandeiras inferiores e superiores em venezianas, que garantem a troca do ar dos ambientes.




Consultoria estrutural: Eng. Arquimedes Costa
Consultoria ambiental: Eng./Arq. Marcelo Mello